Aos pais e filhos que não conseguem dizer “eu amo-te”

Pais e filhos
Pais e filhos
Aos pais e filhos que não conseguem dizer “eu amo-te”!

As pessoas não te dão o que elas têm para dar, nem o que elas querem dar, as pessoas te dão o que elas podem dar”.

Já ouvi esse mesmo pensamento em variadas fases da vida e eu gosto de ouvir coisas repetidas, mas ditas por locutores de diferentes contextos. Às vezes, a articulação da frase, o tom de voz ou a veemência no olhar, lapidam abruptamente a emissão, e de repente, aquilo passa a fazer todo sentido, mesmo parecendo um clichê, mesmo tu estando enjoado de ouvir de novo.

Talvez o amor realmente esteja naquelas fotos felizes e também nas declarações que fazemos aos entes queridos em datas de aniversário. Todo um esforço para que a vida se pareça mesmo com a velha metáfora da família do comercial de margarina. Eu demorei muito tempo para entender que dizer “eu amo-te” poderia ser algo tão vazio quanto o meu frigorifico nas férias.

Não sei se acontece com vocês, mas aqui em casa, falar sobre sentimentos é algo um tanto esquisito, a gente convive todos os dias e esses momentos de “declarações e derretimentos” não acontecem quase nunca, talvez porque a realidade do quotidiano não permita um contexto poético para que essas pausas ensaiadinhas e inspiradinhas aconteçam. Já as brigas, de vez em quando rolam – nada mais normal. Eu sempre achei que isso fosse um problema, isso de achar meio mico falar de sentimentos com pai e mãe, de ter ouvido no máximo uma dúzia de vezes um “eu amo-te” vindo deles em datas comemorativas e olhe lá.

Mas, depois de fazer 30, um pouco menos carente e mais maduro, fui chegando a uma optimista conclusão. Faltou a frase, mas nunca faltou amor. O amor é uma acção, e olhando por esse prisma, tudo foi clareando na minha mente. Os meus pais são extremamente carinhosos, atentos, presentes, privilégio que tanta gente não tem e eu passei um bom tempo aqui me preocupando com a tal frase. O mais interessante é que na minha vida social essa frase é dita por mim com extrema facilidade, e eu não amo menos os meus pais porque em casa eu não aprendi a dizer isso toda hora. Nós somos algo diferente em cada lugar e essa química se define pela reunião de corpos que acontece nesse espaço de encontro. Tudo o que eu sou interfere no outro, mas tudo o que o outro é também interfere em mim, e isso resulta numa equação, num novo lugar, numa negociação em que a gente muda, altera e é alterado. Disso nasce um papel naquele grupo, naquele contexto e isso vale pro núcleo familiar.

Podes investigar e tentar saber de onde vem essa trava que parece exclusiva do seu lar, saber por que é tão raro e económico o uso dessa frase em casa e provavelmente vai descobrir duas possíveis hipóteses: ou essa “secura” e escassez pela frase “eu amo-te” faz parte da identidade do individuo que é o seu pai ou a sua mãe, ou aquilo é uma característica da criação deles. Claro que a gente não se transforma numa cópia dos pais, mas agregamos diversas crenças vindas deles e não é saudável passar a vida os culpando por quem nos transformamos por motivos de “mau exemplo”.

O facto é que no nosso processo de individuação, muito do que a gente carrega da nossa criação, pode ser alterado. Você vai elaborando a sua ilha de personalidade: pode mudar de time, de sex@, de gosto, de partido político e escolher sua própria playlist. Não, não é fácil, a gente às vezes carrega crenças como se fossem uma dívida de criação, ou uma herança maldita, os tais valores ou a escolha da profissão. Mas um dia a gente descobre que é único, a gente descobre que não veio ao mundo para cumprir essa ou aquela expectativa do outro. É um exercício constante, eu mesmo vivo achando que não fiz algo significativo na vida para justificar o facto dos meus pais terem resolvido ter um filho. Mas hoje estou a aprender a ter orgulho de quem eu sou, do que eu pude dar, e também me perdoar por tudo o que eu não sou. Ter também orgulho de quem eu escolhi não ser.

Mas, a grande pergunta é: se muitos de nós somos económicos com “eu amo-te” em casa e super generosos quando estamos na rua, qual a coerência disso quando a família é a coisa mais importante da vida? Deixo que uma frase de Paulo Mendes Campos responda por mim: “Sabedoria: perdoar o BEM e o mal que nos fazem”.

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