A difícil vida de quem trabalha num supermercado.

Esta é a difícil vida de quem trabalha num supermercado:

Eles sofrem problemas de saúde provocados pelo trabalho, surpreendentemente pesado. Veem os seus horários serem alterados de um dia para o outro. Chegam a ser obrigados a almoçar na rua, no carro, na casa de banho. Isto a troco de salários que no limite chegam aos 620 euros.

SEM AUTORIZAÇÃO PARA IR À CASA DE BANHO

O trabalho de uma operadora de caixa é muito mais árduo do que parece. “Imagine-se uma pessoa a passar 60 paletes de leite num dia, e ainda ter de fazer o ensacamento, como obrigam algumas cadeias.

Em pé, até, porque há supermercados que retiram as cadeiras porque assim o funcionário é mais rápido. Oito horas a fazer o mesmo movimento com o corpo, na caixa. Ou a cortar queijo: “eu, quando vou às compras, não tenho coragem de pedir queijo cortado de fresco, porque sei que é um serviço duro“, diz Célia Lopes, dirigente do CESP – Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal. “Por causa de tarefas como essas, muitas vezes os trabalhadores ficam incapacitados, com tendinites, e não conseguem continuar no mesmo serviço.” E a lei permite o despedimento, desde que a empresa prove que não tem alternativa para o funcionário, ainda que a lesão tenha sido feita no trabalho.

Nas alturas de maior movimento, uma simples paragem para se ir à casa de banho pode ser um problema logístico tornou-se infame, no meio, o caso de uma mulher que se urinou na caixa, num Pingo Doce, incidente que o sindicato atribui a uma mesquinhez do chefe de serviço, por não ter dado autorização à funcionária para fazer uma pausa (o Pingo Doce, em resposta à VISÃO, garante que a situação foi alvo de um processo de averiguação “que concluiu pela não existência, em nenhum momento, de intenção por parte da chefia de impedir a pausa da colaboradora”).

“PRISÃO DE ALTA SEGURANÇA”

“Guantánamo. É esse o nome que lhe damos. Mas a alcunha nasceu sobretudo porque as pessoas se sentem presas, acrescenta Ferrage. “As zonas de eletrónica e têxteis são tipo prisão de alta segurança. Vivemos enclausurados.

A área dos artigos topo de gama, como os smartphones, então, está mesmo protegida por grades. Para sair, temos de falar com a chefia, que por sua vez chama o segurança. Mas num turno há só dois para uma área equivalente a três campos de futebol, com 400 ou 500 funcionários. Se queremos ir à casa de banho, temos de esperar 10, 15, 20 minutos, porque o segurança pode estar na outra ponta do armazém.

Depois fica à espera que a gente termine.” À VISÃO, a Sonae explica que o controlo dos acessos na zona fechada da plataforma logística é imprescindível porque atua “numa área com elevados níveis de inovação tecnológica, existindo, por conseguinte, a necessidade (.) de proteger a propriedade física da empresa”.

Um estudo da Proteste Investe, publicado em maio do ano passado, coloca a Jerónimo Martins (Pingo Doce) e a Sonae em primeiro e terceiro lugar da desigualdade entre as grandes empresas nacionais, quando se compara as remunerações dos presidentes do conselho de administração com as dos seus trabalhadores. Pedro Soares dos Santos, CEO da Jerónimo Martins, ganhou, em 2015, 90 vezes mais do que o salário médio praticado na companhia; Paulo de Azevedo, da Sonae, auferiu 69 vezes mais.

HORÁRIOS-SURPRESA

Se já é angustiante viver com salários tão baixos, mais complicado se torna ter uma vida familiar quando não se consegue sequer organizar o dia seguinte consequência das mudanças constantes de horários, até de um dia para o outro, situação que, aliás, está na origem de grande parte dos processos levantados pela Autoridade para as Condições de Trabalho. “É um molho de horários.

Contra tudo o que está estipulado no Contrato Coletivo de Trabalho, que determina turnos planeados com pelo menos um mês de antecedência, acontece muito quererem que eu hoje entre às 7h, amanhã às 11h, depois às 7h, depois às 13h“, diz Luísa Alves.

É essa dificuldade de gestão que leva muitas vezes as chefias a sugerirem às mães solteiras a mudança de loja, quando estas pedem o horário fixo. Mas essas alternativas são presentes envenenados, aponta Paulo Borba, responsável por uma loja do Dia Portugal/ Minipreço em Miratejo, junto a Almada, e dirigente sindical. “Acompanhei o caso de uma senhora, mãe de dois filhos, que trabalhava na Rua Morais Soares, em Lisboa, e morava ali ao lado, em Arroios, que pediu o horário fixo porque o marido foi trabalhar para Angola. Quiseram logo convencê-la a transferir-se para Sintra. Se ela aceitasse, estava desgraçada da vida.

Como hoje há cada vez mais mães solteiras, isto está a agravar-se.” No supermercado que gere, Paulo Borba diz esforçar-se por conquistar as melhores condições possíveis para os seus colegas. “A minha loja é das poucas que conheço que tem espaço de refeição. Nas outras? As pessoas comem na rua, no carro, no jardim, na casa de banho. Não ganham propriamente dinheiro suficiente para irem almoçar ao restaurante.“Esse combate pelos direitos dos trabalhadores tem-lhe custado caro, assegura. “Estive 20 anos a trabalhar na empresa com a folha limpa.

Imediatamente depois de assumir a função de dirigente sindical, e apesar de não ter feito nada diferente, levei quatro processos disciplinares. Quatro!

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Pode sempre ser pior.

OS PROBLEMAS MAIS FREQUENTES
Os funcionários de supermercados e dirigentes sindicais ouvidos pela VISÃO fazem uma longa lista de queixas. Estas são algumas:

> Troca constante de horários

> Objetivos de produtividade “desumanos”

> Salários baixos

> Assédio moral

> Perseguição aos delegados sindicais

> Tentativas por parte das chefias de transferirem os funcionários quando estes reivindicam o direito de ter horário fixo

> Ausência de local para refeições

> Aumentos arbitrários

 

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