Ah a inveja…
Eu sempre digo: demónios fazem ninhos no corpo. Cada um tem a sua preferência. Neste caso a que me refiro, o demónio faz seu ninho nos olhos. E ele não gosta de coisas más e feias. Gosta de coisas bonitas. E o resultado é que, quando uma coisa bonita que cresce no nosso quintal é tocada pelo olho onde mora o verme ela imediatamente murcha, apodrece, cai. E aí vêm as moscas.
O demónio que se aloja nos olhos chama-se inveja. A inveja não olha de frente. Quem olha de frente tem prazer no que vê. Quem olha de lado olha com olho mau. Olho mau, olho gordo: muita gente tem medo desse olhar. Não precisa. O verme da inveja nunca faz nada com os tomates da horta alheia. Ele só come os tomates da nossa horta.
Explico: Fernando Pessoa diz que a inveja “dá movimento aos olhos”. Olho de inveja não olha numa direção só.
Eu tenho um belo tomate a crescer no meu quintal. É certo que não há vermes dentro dele. Vai dar uma deliciosa salada. Mas antes, vou mostrar o meu tomate ao meu vizinho… Um pouco de exibicionismo faz bem para o ego. Mas aí eu olho para o quintal do vizinho. Ele também cultiva tomates. Vejo o tomate que cresce no tomateiro dele. Lindo!
Vermelhíssimo, mais bonito que o meu. É nesta hora que o verme entra no meu olho. Os meus olhos se movimentam. Voltam-se para o meu tomate que era a minha alegria e orgulho. Já não é mais. Vejo-o agora mirrado, pequeno murcho. E ele corresponde: apodrece repentinamente e cai… Perdi o prazer da minha salada.
Esse movimento dos olhos é a maldição da comparação. Quando eu comparo o meu ‘bom-bom-mesmo-mais-que-suficiente-para-me-fazer-feliz” com o “bom” maior do outro, fico infeliz. E o que antes me dava felicidade passa a dar-me infelicidade. Com a comparação tem início a infelicidade humana. Isso acontece com tudo. Comparo a minha casa, o meu carro, as minhas roupas, o meu corpo, a minha inteligência e até mesmo o meu filho.
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Frequentemente os filhos são vítimas no jogo de inveja dos pais. Aquele meu filho, que é a minha alegria, delícia de criança, com um jeitinho só dele e que me encanta… Mas o filho do vizinho tira notas mais altas que o meu, é campeão de natação, é mais forte, mais alto e não é gordinho… Então, o meu olho movimenta-se e o verme aninha-se. E dá-se o mesmo com o meu tomate: apodrece.