Eu lembro-me tanto de ti… parece louco, não? E talvez até seja, mas eu me sentiria um covarde caso não te dissesse isso, assim, à queima roupa. Eu sei que ao ler esta carta – provavelmente enquanto comes um pedaço de chocolate –, deves questionar-te o porquê de tudo isso… e quem disse que eu também não estou? Mas ao mesmo tempo que sinto esse receio – pavor! – de me expor, sinto algo tão bom e sincero por ti, que não seria justo deixar esse sentimento passar em branco. Mesmo que, ao fim de tudo isso, continues a olhar-me com aquela cara de um eterno “não sei”.
Eu gostaria que soubesses que nesse tempo, mesmo não demonstrando com todas as palavras, dos teus detalhes fiz coleção.
Lembro dos teus brincos, alguns pequenos, outros maiores, das tuas roupas quando íamos ao cinema, sempre coloridas, vibrantes, do teu vestido quando foi a formatura de um amigo comigo, e da vergonha que senti quando perguntei se gostarias de te arrumar aqui em casa. Lembro da maneira que corrias, charmosa de tão desengonçada, quando íamos correr juntos, das fotos de comidas aleatórias que me enviava durante a tarde e da maneira linda que falavas dos teus sonhos; era tudo tão seu, tão íntimo.
Lembro dos teus ténis baixinhos, e de como eu era apaixonado por ti quando os usavas, dos seus óculos que só eram usados quando necessário, do teu riso nervoso quando eras elogiada, dos teus beijos de emergência quando as palavras brincavam de desaparecer, da vontade eterna de te aninhares no meu peito quando o tempo custava a passar na frente da tua casa; dentro do carro; no teu colo.
Acontece que és feliz, e isso é lindo! Não existe coisa melhor do que ficar perto de alguém feliz. E hoje vendo-te de longe, linda e sorridente, sei que és um pedaço de coração com passos longos; um coração gigante, mas que demora para se abrir. Confesso, esperei por meses um “estou com saudades!”, um “um gosto tanto de ti…”, um “ei, beija-me, fica aqui comigo, não vás…” De qualquer forma, calmos feito água doce, todos os beijos que te dei foram verdadeiros. Mostraram tanto de mim, das minhas dúvidas, dos meus medos, dos meus sonhos inacabados. Conheceste o meu cantinho – interno e externo –, sorriste com a minha família, fizeste parte dos meus dias, dos meus escritos, do meu eterno medo de ser feliz. E que medo…
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E agora? É difícil ir embora quando eu sei que tens asas do tamanho mundo. É difícil te escrever tudo isso sabendo que a vulnerabilidade do demonstrar, hoje, só cabe a um de nós. É difícil soletrar os sentimentos quando até as vogais doem. Mas, sei lá, levas-me contigo?
Pode ser só no coração… A verdade é que eu morro de saudades tuas, de te beijar, de ficar à mercê dos teus braços e refém da luz da lua, de lembrar que, entre nós, de pequeno, eram só as diferenças. Se é isso que queres saber, claro que irei sentir saudades, vontade de beijá-la sempre que possível, e de correr por aí de meias te carregando no colo, algo normal para nós, os loucos de plantão. E esse é o melhor presente que posso te dar, não uma corrida de meias, claro, mas uma carta com as minhas, tão sinceras, vontades, lembranças e saudades.
PS: Espero que dessa vez a cara não tenha sido de “não sei”.
