Eu amo-te, mas que tal cada um morar na sua casa?
Depois de alguns anos a morar sozinho, eu não me imagino mais a morar com alguém. Na verdade, eu imagino-se participando de uma pré-seleção para ser astronauta em alguma daquelas cidades dos Estados Unidos, mas não consigo imaginar alguém na minha casa questionando o porquê dos meus ténis ainda estarem no meio da sala. Acontece que cada vez mais que a idade passa, as manias entram em plena ascensão, as invasões me soam piores e o pavor, enorme, de alguém deixar o lavatório sujo com pasta de dentes, faz-me entrar em parafuso.
Morar junto com alguém é algo que me intimida. Pelo simples facto de que, sou tão feliz, mas tão feliz sozinho, que me assusta a possibilidade de alguém invadir o meu espaço de tal maneira. Sempre que a relação, neste caso amorosa, chega a esse patamar, entro em crise: e se eu não curtir, posso mandar ela embora em duas semanas? Será que ela ficaria chateada? E se ela começar a congelar as comidas em caixas de gelado? E se ela começar a questionar por que faço a barba dentro do chuveiro? E se eu chegar a casa e ela estiver de pijama no meio da sala a comer sopa de legumes?
Por Deus, se existe alguma coisa que tenho uma enorme aversão, é por pessoas que comem sopa. A não ser que estejam doentes, claro. Pois, quase sempre chego em casa alegre, saltando, com vontade de beber uma cerveja, rir, sair, comer algo bom num restaurante, saltar de asa-delta numa terça-feira ao fim de tarde, fazer amor apoiado no parapeito do prédio… E ela ali, comendo sopa, vendo a novela, com aquele pijaminha comprido de desenhos às oito da noite. Definitivamente, isso não é para mim, sou muito vibrante para dividir o leito com alguém que come sopa.
Por sorte do destino, já namorei bastante e sempre achei muito melhor cada um ter o seu cantinho. Pela liberdade, pela falta de rotina, pela sensação tão boa de “vem cá? quero te ver” – “dorme aqui comigo…” – “passa o fim de semana aqui…” – “eu faço um pequeno almoço para a gente”. Eu sei, um dia a relação terá que avançar e criar raízes, mas até lá… fica aqui comigo no fim de semana?
Com tempo, a gente percebe que para viver esse amor que idealizamos, precisamos entender que se relacionar é viver uma eterna renúncia. Ceder um pouco aqui, ceder um pouco ali, ceder quando quer, ceder quando não quer. Mas, por outro lado, a gente também aprende que para realizar os nossos sonhos precisamos de solidão. Precisamos de uma energia que nos consome integralmente em busca de um único objetivo: a realização do nosso sonho. Essa alegação que é possível a realização dos sonhos pessoais a dois, para mim, é irreal. Alguém terá que ceder, alguém terá que encaixotar o seu sonho em prol do sonho do outro. E, por agora, não serei eu que o farei. E acho injusto que tu também o faças; não posso apagar o brilho do teu sonho. Parece egoísta, parece mesquinho, e pode até ser que seja. Mas quem disse que para realizar os nossos sonhos a gente não tem que viver fases egoístas?
Para viver um amor daqueles que a gente sonha, que envolvem filhos, cachorros, uma decoração com moveis que compramos numa uma lojinha junto à praia e uma sogra que passa o fim de semana na tua casa questionando os teus hobbies, é preciso ter disposição. Não é uma decisão de fim de semana. Não é algo que a gente faz por obrigação ou pressão. É algo que pede, em conjunto, consentimento do coração e da razão. Coisa que nessa altura do campeonato eu não tenho. Não por agora. Estou numa fase de descoberta, de viajar, de ganhar dinheiro, de construir a minha carreira. Essas coisas.
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Claro que eu não almejo ficar sozinho até o fim, até porque seria um desperdício! Seria triste pensar que porventura alguém neste mundo estaria perdendo o melhor brigadeiro de panela do universo. Mas, um dia, sem pestanejar, espero mudar de ideias, e de disposição, por alguém que invada a minha casa de uma maneira que eu não consiga mais pensar diferente. Desde que, obviamente, ela não deixe o lavatório sujo de pasta de dentes e, por favor, não coma sopa de legumes.