Amor constrói-se aos poucos…
Eu sempre tive pressa de amar. Assisti a muitos filmes da Disney na infância e passei a adolescência a comer pratos e mais pratos de brigadeiro acompanhados de água gelada e comédia romântica. Não foi à toa que eu cresci a sonhar com compromissos apressados, amores à primeira vista, juramentos apaixonados e beijos desesperados. A ficção também teve culpa de eu ser assim.
A verdade é que o amor inventado é tão lindo que nos faz acreditar que a vida também precisa de cavalo branco, lágrimas nos olhos, joelho no chão, sapato perdido e a perfeita sintonia do reencontro das almas que logo percebem que em outras vidas já se amaram assim.
A gente deixa-se seduzir pela ficção porque é bonito mesmo. É plástico. É poético. É encantador esse negócio de se olhar e já se amar num passe de mágicas, sem dúvidas e sem as feiuras da realidade. É bonito o amor intocado, mas nem que seja na marra o tempo ensina: amor apressado é quase sempre inventado. Na vida dificilmente é assim.
Com o tempo a gente aprende que as histórias de amor real também são lindas, é verdade, mas não são tão lineares assim. Com o tempo a gente aprende que o amor é complexo. Não tem certo ou errado. Amor constrói-se no tête-à-tête. No olho no olho. Na conversa diária. No “olha que coincidência, eu também penso assim.”
Amor de verdade leva tempo. Amor tem discussão, discordância e uns bons bocados de empatia, solidariedade e respeito. Amor de verdade tem amizade. Tem conversa boa. Tem restaurante a fechar, festa a acabar, e “Meu Deus, olha a hora.” Amor de verdade leva tempo passando rápido. Amor de verdade perde a noção do tempo.
Amor de verdade tem feiura. Tem cara amassada, maquiagem borrada e camisa manchada. Amor de verdade tem espinha nas costas e cravo na cara. Amor de verdade tem nojeira, doença, imprevisto e risada. Amor de verdade tem ajuda, tem carinho e o mais sincero “relaxa, você também fica linda assim toda cagada.”
Amor de verdade é imperfeição. Às vezes dá tudo errado mesmo. Amor de verdade vem com paciência, tolerância e conversas francas. Amor de verdade exige muita vontade e muito respeito.
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– O amor tem um limite que se chama dignidade.
– Por favor, um amor que saiba responder à vida a sorrir.
Amor de verdade dá liberdade. Amor de verdade compreende e debate. Amor de verdade implica, tem ciúme e às vezes até raiva. Sem hipocrisia. Sem lengalenga. Esqueceste? É de verdade!
Amor apressado também é bonito, eu sei, mas amor construído soa tão mais verdadeiro que eu chutaria dizer que esse sim deve ser o tal amor. Aquele lá. O tão sonhado amor de verdade.