Deixas-me quietinho?

Hoje eu quero ficar quietinho. Sei lá, deixa-me no meu quarto, na minha casa, no meu mundo. Não me perguntes se aconteceu algo, se eu gostaria de sair ou se já terminei de ver aquela série. Eu sei, parece estranho. E é. Mas depois eu explico.

Eles não sabem, mas não é porque repentinamente quero ficar em silêncio que eu esteja chateado com algo. Muito menos queira me pendurar no parapeito do prédio. Juro. Acontece que o silêncio é a minha música nos dias tempestivos. É um tempo precioso que uso para organizar o que a rotina e as pequenas tristezas desorganizam dentro de mim.

Eu tenho o meu tempo, os meus costumes, meu ritmo. Gosto de acordar devagar e pensar nas possibilidades do dia ainda na cama, por isso demoro para levantar. Gosto de ficar em silêncio sem motivos explicáveis, preciso livrar-me dos excessos que acumulo durante o dia. Gosto de ficar sozinho e conversar comigo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Ah, e detesto trabalhar com alguém atrás de mim. Ver alguém observando pelo reflexo do computador, então? Torturante.

Quando alguém me pergunta, na maioria das vezes pessoas presas num tédio sem fim, o que eu faria se tivesse somente mais uma semana de vida, eu respondo, sem hesitar e sem dúvidas: ficaria na minha casa. Não sei, mas, para mim, chegar na minha casa e abraçar o silêncio que ali se faz é um presente especial. Se um dia eu for apaixonado por alguém como sou pela minha casa, será um caso de eternidade. Eu gosto dos meus abajures, que, convenhamos, criam todo o charme-luz de uma casa. Eu gosto da minha cama que ainda faz barulho do ranger da madeira enquanto me mexo, do meu cachorro que late por qualquer coisa e eu sempre acho que são espíritos, da minha televisão de tubo que tenho na cozinha… é tudo tão meu.

Às vezes acho que eu gosto da solidão e do silêncio mais do que deveria. E aí me bate aquele medo gigantesco de nunca mais conseguir dividir esses meus momentos de silêncio com mais ninguém. Pois, esse momento é tão meu, mas tão meu, que dividir ele com alguém me assusta… e aí convivo com aquele eterno conflito interno de amar loucamente a solidão, mas morrer de medo de morrer sozinho.

Ficar em silêncio não é somente se desvencilhar das palavras, mas uma metáfora para a solidão. Ficar em silêncio é ficar sozinho ouvindo uma música, é abrir a janela com intuito de ouvir os carros passarem, fazer uma janta gostosa na companhia única das nossas mãos desastradas, caminhar no parque, surfar, dizer um te amo num profundo diálogo com o teto, pois não temos mais tempo de dizer diretamente para a pessoa… O silêncio é sempre uma conversa com a nossa parte mais madura.

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Ninguém perde ninguém porque ninguém possui ninguém.
Casais que se embebedam juntos são mais felizes, diz estudo.

Mesmo ouvindo com frequência que sou estranho ao optar pelo silêncio sem aviso prévio, eu gosto dos meus momentos de quietude, das minhas manias de solidão e da alegria que sinto quando tenho alguns minutos de paz durante o dia. Espero que um dia alguém também goste, caso contrário, haja diálogos com o teto do meu quarto… Sim, diálogos, o meu teto me responde, o teu, não?

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