Amar é ser capaz de dizer não ao que tem de ser recusado.
Sou forte quando consigo ter uma conduta consciente, em que faço o que faço porque decido o que fazer. Não porque as outras pessoas também o estão a fazer. Esse comportamento mimético (que imita), simiesco (parecido com macacos), em relação a algumas práticas é sinal de fraqueza e de pusilanimidade (fraqueza de ânimo).
Aceita-se hoje, com a maior facilidade, o que chamo de ética da conveniência. “Bom é tudo aquilo que me favorece. O que não me favorece considero mau”. Em vez de termos valores de conveniência que sejam sólidos, menos superficiais, portanto, menos cínicos, há uma hipocrisia que leva a esquecer que ética não é cosmética. Não é efeito de fachada.
A expressão ‘o amor aceita tudo’ é absolutamente antiética e antipedagógica. A pessoa que seja capaz de amar é aquela que recusa aquilo que faz mal, por isso um pai e uma mãe não pode jamais dizer ao filho ‘é porque eu te amo, então tudo aceito’.
É exatamente o inverso: porque eu te amo é que eu não quero que uses drogas ilegais; é porque eu te amo que eu quero que sejas decente; é porque te amo que eu não quero que banalizes a tua sexualidade livre e bonita; é porque eu te amo que eu quero que tenhas esforço na tua produção e é porque você me ama que eu quero que tu, meu filho, minha filha, adverte-me, também me apoia, também me corrijas naquilo que eu estiver equivocado. Essa relação de cuidado mútuo, só nos faz crescer.
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Por isso esse exemplo do do quotidiano tem que aparecer como sendo a recusa com qualquer situação. A ética do amor não é a ética da conveniência em que as coisas valem a partir de qualquer momento, mas uma ética que é capaz, também de dizer ’não’ ao que tem que ser recusado.
Texto extraído do livro Educação, convivência e ética: audácia e esperança, Cortez Editora, 2015, páginas 76/77.