A psicóloga Katerina Dyomina explicou por que os filhos mais velhos não devem ser responsáveis pelos mais novos. Se tens filhos ou conheces alguém que esteja a passar por uma situação como essa, recomendamos a leitura.
Tudo começa com pequenos detalhes: “Filha, toma conta do seu irmão enquanto eu tomo banho“. O mais novo dorme e não acontece nada de errado. O bebé acorda, não chora e a filha mais velha age exatamente como a mãe, imitando gestos e palavras. Infinitamente orgulhosa, a filha diz: ”Mãe, eu não fiz tudo certo? Não sou uma ótima ajuda?“. A mãe responde que sim, dá um chocolate e um beijinho como agradecimento.
Em seguida, as responsabilidades aumentam. “Cuida do teu irmão no parque enquanto eu vou fazer compras”. Isso já é muito mais difícil. Num parque, a chance da criança se magoar é muito maior, e as crianças pequenas são imprevisíveis. Suponhamos que nas primeiras vezes não aconteça nada com o pequeno, mas, na quinta vez, ele veja a mãe chegar com as compras, salte do balanço, caia e bata a cabeça. Após perder sangue e ir ao hospital, ele vai se acalmar, mas e a filha mais velha? Este trauma é muito mais complexo. Ficará nervosa e, talvez, possa desenvolver algum sentimento negativo em relação ao irmão e ao parque.
Se a diferença de idade é menor que 12 anos, não deixes o mais velho cuidar sozinho do mais novo.
Se o mais velho cuidar do pequeno por alguns minutos, apenas enquanto a mãe prepara a comida, tudo bem. Mas não digas ao mais velho levar o outro para passear, e não o deixes sozinho por mais de cinco minutos. Sim, isso mesmo, cinco minutos. Nada de “Vou até a vizinha e volto em cinco minutos. Vê se a sopa a sopa está a ferver à mãe“.
Talvez algumas pessoas não concordem com esta teoria, afinal de contas, muitos irmãos saem para passear sozinhos e não acontece nada. Tá certo, pode ser. Eu trabalhava nas urgências de um hospital infantil. Queimaduras, quedas da janela, cortes com tesoura, ”ele estava brincar de me enforcar”, objetos enfiados no nariz, mão no forno, etc. Tudo isso em apenas três dias de trabalho.
Uma criança de sete anos não consegue evitar que o irmão de cinco faça coisas perigosas. Muitas vezes, ele mesmo gera situações de risco. Por exemplo, pode colocá-lo no parapeito da janela. Sem más intenções, claro, apenas como parte de um jogo. Lembro-me que eu mesma, quando tinha cinco anos, tentei injectar uma seringa vazia no meu irmão (sim, brincávamos de médico-paciente). Foi um milagre não ter causado uma embolia. Portanto, por favor sê realista em relação às habilidades reais dos teus filhos.
Se a diferença de idade é de 12 anos ou mais, o mais velho pode cuidar do mais novo como se fosse uma ama. Mas só se ele estiver de acordo e se pagares de alguma forma pelo ’serviço’.
Uma coisa é brincar com o irmão mais novo o tempo que quiser, outra é fazer com que a criança seja responsável pela segurança do outro. Em geral, um adolescente já tem o dia super cheio com escola, desporto, vida pessoal, tarefas, etc.
Se quiseres a ajuda do teuu filho, pensa em alguma recompensa pelo esforço. Pode ser com dinheiro ou com outras coisas, por exemplo algum presente. Ou ainda “Hoje o pai e a mãe vão ao cinema e no domingo te levamos ao…”. Por ouro lado, é importante que todos na família conheçam as suas responsabilidades. Cuidar do irmão mais novo pode ser parte das tarefas domésticas. Mas isso tudo deve ser discutido antes, principalmente os dias e as horas de ’trabalho’. Em geral, recompensa não financeira é mais saudável, afinal de contas uma família é uma entidade em que todos devem participar e todos devem se ajudar, não uma empresa.

Deves lembrar-te de que o teu filho mais velho não tem culpa se tiveste mais filhos e não estejas a conseguir encontrar tempo e força para cuidar de tudo. A criação é função dos pais, não dos filhos mais velhos. Os filhos mais velhos podem ajudar voluntariamente, mas a responsabilidade é dos pais.
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– Quando eu for mais velha, quero ao meu lado pessoas de coração jovem.
– Ninguém prepara os filhos para o envelhecimento dos pais.
Muitas vezes, vemos filhos a ser castigados pelo mau comportamento dos mais novos. “Eu falei que era para cuidares dele!”. Este tipo de reação é muito errada. Essa forma tão severa de educar o teu filho faz com que ele acabe muito atento e cuidadoso, mas, no futuro, talvez não queira ter filhos. No seu subconsciente ele entende que ter um filho representa uma carga excessiva de trabalho. Se queres ter netos e queres que o teu filho cresça feliz, cuida dele. Será melhor para todos.