Estamos a formar uma geração de egoístas, egocêntricos, alienados e inconsequentes.

Estamos a formar uma geração de egoístas, egocêntricos, alienados e inconsequentes.

Vivemos numa sociedade de alienados, sujeitos que não conseguem sequer interpretar um texto, as nossas crianças são “condicionados nas escolas” jamais educados. Infelizmente não há cultura neste país da desigualdade. Parece que perdemos a capacidade de raciocinar, de entender o contexto e complexidade de tudo os que nos cerca. Ninguém discute com seriedade o que está levando a nossa sociedade a viver na idade das trevas.

Os pais estão terceirizando a educação dos filhos e, num mundo sem tempo e repleto de culpa delegam a educação dos seus filhos a professores que não podem ser responsabilizados e muito menos tem competência e formação para isso. Professores são facilitadores da inteligência coletiva, pais são os educadores na/da/para a vida!

Nos dias de hoje o tempo passa rápido demais. Muito rápido, tão rápido que nem dá tempo de tentar entender e processar o que foi vivido nas poucas horas atrás.

As crianças acordam cedo, vão para escola. Chegam em casa, almoçam ao mesmo tempo que assistem TV, atualiza a conversa no WhatsApp, checam a sua ‘TimeLine’ no Facebook, curtem páginas dos amigos, colocam em dia os gostos do Instagram e comentam de forma superficial – pois não compreendem o contexto e complexidade – as reportagens da TV. Se perguntar quem dividiu a mesa com eles é possível que nem tenham se dado conta, pois estão mais próximos dos amigos “virtuais” do que daqueles que partilham o mesmo espaço, a mesma mesa e a mesma comida com eles. Mas o mais trágico nisso tudo é que os pais, também, estão sentados à mesa a assistir TV, atualizando a conversa no WhatsApp, checando a sua ‘TimeLine’ no Facebook, colocando em dia os gostos do Instagram e comentando de forma superficial as reportagens da TV.

Depois do almoço os pais irão para o trabalho e os filhos para a aula de computadores, inglês, gonásio…

À noite ficarão no quarto em frente ao note navegando por sites que jamais se lembrarão, conversando pelo skype, jogando on line, até a hora de dormir.

No fim de semana estes jovens dormirão a maior parte do tempo para se preparar para a noite, para a discoteca, onde beberão até cair.

Estes jovens entram muito cedo na sua vida pretensamente “adulta”. Já “brincam” de pai e mãe antes mesmo de brincar de casinha. Estes jovens são lançados da infância, cada vez mais curta, direto para a vida “adulta”, passando sem piscar pela adolescência.

Qual estrutura e base estes jovens terão para superar conflitos pessoais? Comportam-se como adultos aos 13, 14, 15 anos e, em muitos casos são tratados como adultos, mas não são adultos, são crianças e adolescentes que não sabem absolutamente nada da vida, mas são cobrados como se soubessem de tudo e pior, acreditam que sabem sobre tudo. Eles querem ser aceites, infelizmente querem ser aceites em um mundo irreal de aparências!

Nesse “nosso” mundo do “parecer”, do “fake”, do consumo do corpo perfeito, da mentira perfeita, do dinheiro a qualquer custo, do consumir e exibir, da exposição sem limites, da falsa propaganda que vende vidas “perfeitas” somos “forçados” a fazer parte dessa sociedade de “mentirinha”.

Na sociedade do consumo do corpo perfeito, da vida perfeita, do ser perfeito, não existe espaço para “ser humano”, não existe lugar “para sermos quem somos”, aqueles que exibem as suas imperfeições, pois o imperfeito não cabe na aparência perfeita do mundo da mentira.

É preciso viver para compreender a vida, viver todas as emoções, boas e más, sorrir, chorar, vencer, perder, amar, rejeitar, ser rejeitado, ter amigos, inimigos, construir alianças, quebrá-las… Cabe à família dar o suporte, fornecer o alicerce para que este ser, mesmo em épocas de tempestade, não desmorone. E na convivência quotidiana, construirá o seu edifício interno, com janelas, portas, divisórias, que poderá balançar em muitos casos, mas jamais desabar se bem estruturado.

Mas como educar se os pais não têm “tempo” para ajudar estes jovens a construir sua estrutura?

Os filhos não têm “tempo” para ouvir o que os pais têm para dizer, talvez uma conferência familiar pelo Whats ou Skype, quem sabe…

Os amigos não têm todas as respostas

E talvez o mais triste para esta geração

O Google não tem todas as respostas.

A alma não está a ser vendida para o diabo, mas sim, depositada em sites de relacionamento e eventos que precisam ser constantemente alimentados para nutrir o mercado. Se não existe um evento, tudo bem, faz-se imagem de si mesmo, pois a imagem é tudo neste mundo baseado no TER, SER não importa, o que vale é PARECER e, para parecer e aparecer é preciso exibir.

É imperativo que estes jovens compreendam que eles NÃO têm o valor do que é “consumido” ou do que consomem em imagens, exposição, “likes”, partilhas e “comments”. O seu valor não é “subjetivo e líquido”, pois este “valor” está na forma como ele se constitui enquanto ser humano real. SER REAL não é nada fácil no mundo “líquido”, mas precisamos tentar, não apenas com os jovens, mas também em relação às nossas vidas, pois creio que se hoje estas moças e moços vivem dessa forma, não são nada diferente de quem os criou, pois a nossa sociedade vive de ter e exibir, nossa juventude nada mais é do que reflexo de uma sociedade “adoentada”.

As nossas crianças já nascem sem tempo, extremamente competitivas, presas em escolas integrais que garantirão o seu “futuro”. E dessa forma continuarão a lubrificar as engrenagens de nossa sociedade doente e “medicada” que confunde saúde com remédios, consumo com qualidade de vida, amor com bens de consumo. Estamos a formar uma geração de egoístas, alienados e inconsequentes, que se preocupam mais com a sua imagem do que em “ser” humano.

Quando somos jovens, acreditamos que sabemos tudo, que estamos prontos para a vida, mas viver ensina que a gente não sabe NADA sobre a vida. Compreender e aceitar que não somos e nunca seremos perfeitos, que simplesmente não sabemos de quase nada e nem temos certeza de tudo, nos torna mais abertos, mais humanos, mais doces, mais amorosos e tolerantes, com nós mesmos e com os outros.

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Mas para que os nossos jovens possam compreender tudo isso, precisamos cria-los para que sejam mais humanos, colaborativos, criativos, transgressores, mas para isso, precisarão ser ensinados que serão alguém, não pela quantidade de bens que possuírem e exibirem, mas sim, por “ser” humano, “ser” como verbo de ação!

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