Não sei se morro, se mato ou se o procuro…
Estranha demais, és tão inconstante.
Pareces navegar constantemente, num mar flutuante.
Emites ondas de intensa energia, tão descalibradas que interpreto oceanos de imensa utopia. E assim passa o dia, sem qualquer recompensa.
Não é certo ser assim, tal modo é imperceptível para mim.
A incerteza que tenho é do tamanho da certeza que mostro. Não gosto. Mas gostar não me cabe. Quem sabe?
No fim, até está certo ser assim, apenas porque mandas em mim.
Estou no pico da minha crença. Agora, enquanto estou à nora, toma uma corda e o meu pescoço.
Ata.
És mais que uma simples doença, és a saúde que mata.
Estou no centro, está escuro.
Todas as mãos estão a centímetros de me tocar, nunca tocando. Todos os olhos me vêem, nunca eu os vendo.
Não chega, o futuro.
Não sei se morro, se mato ou se o procuro.
A saída não… é demasiado simples. Não quero. Quero entrar.
Subitamente, sem morrer todo, procuro matar.
Sinto-me assim. Nem sempre bem, nem sempre aqui.
Por vezes mergulho, e é no mergulhar que me encontro, submerso em fluídos carnais. Tão intensos, tão fisicamente brutais.
Cheiram a vísceras.
Sabem a alma.
O seu toque é de chama com pedaços de calma.
Terei algum dia paz? Não adivinhando, afigura-se impossível. O toque da angústia não é brando nem remissível.
No entanto, sinto dentro um admirável pranto.
Podem até ser as trevas, mas, pelo menos por enquanto, trazem-me humanidade.
Sinto o líquido a passar, com aroma a saudade. Toda a vida a avançar, apalpando a liberdade. Nunca lhe tocando, por gosto ou solidariedade.
De repente, sinto-me a voltar. Não aqui, não a outro lugar. Voltei ao nada, e no nada fico. Pareço aflito, mas num ápice reflito. Eu sou um ser, estou vivo e a perecer. Os pós em mim se afinam, cheios de um destruidor prazer.
E, cá por dentro, sobem e descem labaredas de sangue, pintadas de morte, revoltadas e com tão fino recorte, que não lhes consigo escapar. Neste momento são reais, vão-me agarrar.
Aqui venho à tona, sem poder descansar.
A morte é tão real. Não pareço normal.
E assim deve ser. Se agora estou vivo, o amanhã é para morrer.
Interesso-me pelo interesse que mostras em não te interessar.
O desinteresse interessa-me,
E intensamente se apressa a chamar.
A simpatia não, não me chama.
Que seria de mim se me deixasse pelo interesse conquistar?
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Não deixarei. Ninguém deixará. É a dor que nos puxa.
E apenas descontrolados nos mostramos, se pensamos ter o controlo na mão.
Afinal, o que nos atrai? A indiferença ou a sedução?
São as chamas do inferno. Que tanto pairam em mim, e recorrentemente me acorrentam. Combato com compaixão…
De nada vale, a prisão não é opcional, é condição necessária para ser animal. O paraíso da liberdade não existe, queremos sim o abismo, a escravatura. Mais que tudo, na vida, só queremos morrer.