Fica a saber o que nunca deves fazer a um gato.

Ter um gato não é o mesmo que ter um cão ou um bebé humano. Quando alguém adota um animal, procura os primeiros conselhos com familiares, amigos, vizinhos e na internet. O mesmo acontece quando o gato fica doente.

A solidariedade é a base de uma sociedade, em todas as suas vertentes. Os veterinários não são exceção. Mas porque os apoios não existem, para sobreviverem como profissão não podem deixar de cobrar pelos seus serviços. No entanto, de certeza que irão enveredar esforços para encontrar soluções que favoreçam ambas as partes, sem prejuízo do interesse do animal.

1 – CORTAR BIGODES
As vibrissas ou bigodes são fundamentais para o equilíbrio e orientação do gato. Correspondem a um conjunto de pelos sensoriais, localizados entre o lábio superior e o nariz. Funcionam como uma espécie de radar, dando a noção exata de dimensão e distância dos objetos, facilitando a movimentação do animal na escuridão total. A perda deste órgão sensível provocará insegurança e frustração, uma vez que o gato terá dificuldade em executar determinadas tarefas rotineiras, como saltar com precisão, orientar-se no escuro ou andar em linha reta.

2 – DAR PARACETAMOL
Um comprimido de paracetamol atinge drasticamente os glóbulos vermelhos e o fígado, levando à morte em poucos dias. Isto porque os gatos não o conseguem metabolizar, por falta de proteínas que o degradem. Não é porque um medicamento é inofensivo para bebés humanos que é também inofensivo para gatos, mesmo que adultos. Analogias entre espécies nunca devem ser feitas, uma vez que são perigosas. Muitos gatos morrem desnecessariamente porque os seus tutores resolvem improvisar e medicar, sem aconselhamento médico. Mesmo com tratamento adequado e intensivo, a intoxicação por paracetamol mata, de forma lenta e dolorosa.

3 – DAR ÁCIDO ACETILSALICÍLICO
Muito utilizado como antipirético e analgésico, demora cerca de 45 horas a ser eliminado pelo metabolismo felino, enquanto que, no ser humano, o mesmo acontece em cerca de 4 horas. Isto porque os gatos não possuem concentrações suficientes da enzima necessária para a metabolização da droga. Os sinais de intoxicação são: apatia, aumento da frequência respiratória, febre, anorexia, vómitos, gastrite hemorrágica, lesões renais, hemorragias, coma e até morte. O ácido acetilsalicílico inibe a secreção e agregação de plaquetas, causando quadros hemorrágicos perigosos ou letais.

4 – MEDICAÇÃO SEM CONSELHO VETERINÁRIO
Automedicação é perigosa e exige conhecimento profissional. O gato possui um metabolismo peculiar, diferente do cão ou do homem. Nunca deve ser considerado um bebé humano, apesar da semelhança de peso, ou um cão de igual porte. Os metabolismos diferem muito e utilizar uma outra espécie como referência, pode ser fatal. Nunca arrisque. Confie ao médico veterinário a escolha do fármaco que o seu animal realmente precisa.

5 – DESPARASITAR COM PIRETRINAS
As piretrinas são inseticidas usados no controlo de parasitas externos dos cães. São habitualmente vendidos sob a forma de pipetas de aplicação tópica, coleiras, pós ou champôs e visam a eliminação de pulgas e carraças. Esta espécie possui enzimas próprias para a sua degradação e é, por isso, capaz de as inativar, sendo segura a sua utilização. Os gatos são bastante mais sensíveis a estes produtos, incapazes de os metabolizar e a sua ingestão, inalação ou contacto com a pele pode ser desastrosa. A intoxicação causa sintomas neurológicos e musculares agudos tais como salivação excessiva, tremores, convulsões, dificuldade respiratória, diarreia e vómitos, depressão ou hiperexcitabilidade, febre ou hipotermia e, como derradeiro e último sintoma, a morte desnecessária e agónica. É muito importante ler atentamente os rótulos dos produtos antiparasitários que utilizar e NUNCA extrapolar para o gato aquilo que pode utilizar num cão.

6 – UTILIZAR GUIZOS NAS COLEIRAS
Sem dúvida, quando compra uma coleira para o pequeno tigre, esta virá, muito provavelmente, ornamentada com um guizo. A maioria das pessoas acaba por o deixar ficar, por achar engraçado ou mesmo por conveniência, uma vez que se torna mais fácil localizar o seu portador. No entanto, sob o ponto de vista do gato, estes pequenos e ruidosos objetos são obra do demónio. Como caçadores, vêm a tarefa dificultada pelo seu soar indiscreto.  Se o objetivo é salvar vidas de pequenos pássaros e roedores, o uso de coleiras com cores garridas e brilhantes pode ajudar, com a vantagem de não stressar o gato. Em relação à vantagem de o tilintar servir para o localizar, podes sempre utilizar outros truques, como por exemplo agitar a caixa da ração para o atrair. E os guizos podem ser utilizados para fabricar brinquedos caseiros.

7 – PASSEAR O GATO À TRELA
Os gatos são predadores, mas também são presas. Ou seja, não gostam de ficar expostos, sem controlo do ambiente, uma vez que temem potenciais inimigos. Adoram explorar, mas sem perderem o domínio da situação, ao seu próprio ritmo e conforme a sua vontade. Mesmo quando fazem explorações mais alargadas, verificam visualmente se existem esconderijos ou zonas seguras nas redondezas, para ai se refugiarem, se acharem necessário. É por esta razão que tantos gatos são atropelados quando atravessam estradas movimentadas. Considerando que estão em ambiente hostil, precipitam-se numa fuga cega, para encontrarem abrigo onde relaxar e voltar a sentir que estão no controle da situação. Partindo deste principio, é fácil compreender que pode ser muito arriscado expor um gato a um ambiente desconhecido, preso por uma trela. Cego de pânico, tentará fugir descontrolado, enrolando-se no fio, reagindo de forma perigosamente agressiva a qualquer mão que o tente acalmar. Ambos, animal e tutor, poderão acabar feridos, com maior ou menor gravidade. Para além da associação, que o gato fará, do tutor com o incidente e quebrar-se a confiança que nele depositava.

8 – DAR CHOCOLATE
Muito falado em cães, mas também tóxico para gatos. O chocolate contem teobromina, que não é metabolizada no fígado, causando diarreia, vómitos, tremores, descoordenação motora e até morte. Qualquer produto que contenha chocolate, mesmo que em ínfimas quantidades, está completamente proibido na alimentação felina.

9 – LEVAR O GATO AO VETERINÁRIO SEM TRANSPORTADORA
Os tutores conhecem o seu animal no contexto doméstico, em ambiente controlado e com o qual está completamente familiarizado. Salvo raras exceções, em casa sentem-se confortáveis e seguros e a sua atitude é a expectável. Mas quando são confrontados com o ambiente hostil de sala de espera do consultório veterinário, com sons ameaçadores, odores assustadores e outros animais igualmente amedrontados, todos os sinais de alerta da sua condição de presa disparam e o gato só quer sair dali a qualquer custo, sem olhar a meios ou medir consequências. Portanto, mesmo que o pequeno tigre seja a mais calma e doce criatura alguma vez vista, não arrisques. Não saias com ele sem ser na transportadora.

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10 – DAR PILULA CONTRACETIVA
O controle da natalidade nas gatas deverá ser feita através da esterilização cirúrgica. A pílula anticoncecional está completamente contraindicada, pelos riscos que a sua administração acarreta. A piómetra é uma doença uterina, em que ocorre uma infeção no interior deste órgão, infeção esta que não se consegue controlar com a administração de antibióticos. Só a ovariohisterectomia (remoção de ovários e útero) a pode resolver, mas existe a possibilidade de septicemia pós-cirúrgica (generalização da infeção). O risco de desenvolver esta doença é muito maior em animais a quem é administrada contraceção oral.

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