Depressão não é só passar o dia na cama. Ela é a principal causa de problemas de saúde e invalidez no mundo. O dado, divulgado recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), revela um quadro generalizado: mais de 300 milhões de pessoas no mundo apresentam o transtorno.
O alto índice pode ser relacionado também ao facto da doença muitas vezes ser subestimada pelas pessoas. Com isso, estereotipar os sintomas pode prejudicar quem tem depressão, por essa pessoa achar que o que está a sentir é algo banal e que não necessita de tratamento.
O que é a depressão?
Ao contrário do que muitos ainda pensam, a depressão é uma doença grave, que precisa de tratamento adequado. Inclusive, a OMS acredita que o crescimento da doença se deva também pela falta de apoio a iniciativas públicas para a saúde mental.
“É parte da vida passar por momentos tristes, como o término de um namoro, a demissão de um trabalho, engordar ou emagrecer com aquela dieta insuportável, ser assaltado e assim por diante. Mas são casos pontuais, que passam”, fala a especialista.
“O problema começa quando esse sentimento já não é passageiro e começa a debilitar a qualidade de vida desse doente”, diz.
O que causa?
Há algumas hipóteses sobre o efeito da depressão na função das hormonas no funcionamento do cérebro. Há especialistas que apontam para a queda da serotonina no órgão como a causadora da doença. Esta hormona faz parte dos neurotransmissores do cérebro e regula sono, apetite e humor.
Porém, outros indícios mostram que o stress pode ter papel significativo no quadro de depressão. O aumento de hormonas ligados ao stress, como o cortisol, pode prejudicar a saúde dos neurónios porque modificam a composição química do meio em que essas células exercem suas funções.
Sintomas da doença: como é uma pessoa depressiva?
Existe um estereótipo de que o paciente com depressão é aquele que não consegue sair da cama, que perdeu a vontade de viver. Mas, na verdade, a pessoa que vive uma rotina normal de vida e trabalho e até aparenta estar feliz também pode ser depressiva, ainda que ninguém perceba.
“Realmente existe esse paciente que fica acamado. Porém, quanto mais pessoas forem informadas sobre outros sinais da depressão, tão importantes quanto esses e menos óbvios, melhor”, aponta Pamela. “Quanto mais cedo o tratamento começar, melhor será a qualidade de vida dessa pessoa”, comenta.
Segundo explica a psicóloga, trata-se de uma doença sorrateira, que se agrava aos poucos e, se não identificada, pode chegar ao ponto de incapacitar completamente o paciente e até matar.
“Ninguém acorda da noite para o dia com depressão. E os sintomas menos notados, muitas vezes, não são percebidos e evoluem aos poucos”, diz.
Sinais menos óbvios da depressão
Para a especialista, a tristeza é um sentimento normal e primitivo do ser humano. Assim com a alegria ou a raiva. Mas o sinal de alerta deve apitar quando o mau-estar emocional não passa.
“Acordar, passar o dia e dormir triste. Quem tem depressão enxerga a vida a partir de uma ótica diferente. Tudo o que acontece é encarado de uma maneira triste”, aponta a psicóloga.
“Se esse sentimento se manifesta durante quase todo o dia, todos os dias da semana e por um período mínimo de duas semanas, pode ser indício de quadro depressivo”, também alerta o psiquiatra António.
Sintomas para prestar atenção e procurar ajuda
- A produtividade tem queda gradual que, com o passar do tempo, torna-se significativa.
- O estímulo para levantar da cama e fazer tarefas quotidianas já não é o mesmo.
- Por mais que haja reconhecimento no trabalho, a sensação interna não é de gratificação.
- Familiares e amigos podem notar certo desânimo.
- Mudanças de humor consideráveis e instáveis.
- Queda no desejo de fazer amor.
- Alteração de apetite, tanto para mais ou para menos.
- Qualidade do sono prejudicada. Mesmo dormindo muito ou pouco, a sensação de cansaço é constante.
- Dificuldade de concentração.
- Sentimentos constantes como tristeza, desamparo, desesperança.
- Raiva e irritabilidade constantes.
- Falta de interesse em atividades e hobbies que uma vez já foram emocionantes.
- Dificuldade de tomar decisões por longos períodos de tempo.
- Isolamento social dos amigos, da família e do parceiro(a).
A seguir, o escritor e ilustrador Matthew Johnstone conta a sua história com a depressão e como conseguiu superá-la. O vídeo foi produzido por ele em parceria com Organização Mundial da Saúde, para marcar o Dia Mundial da Saúde Mental em 2012, e oferece uma explicação muito clara da óptica do depressivo:
Consequências da depressão
O que muitas pessoas desconhecem é o efeito da doença no sistema imunológico e como molapropulsora de outros males. De acordo com o Ministério da Saúde, a depressão pode aumentar em 30% a chance de doenças coronarianas e ataques do coração.
Segundo informações do diretor do Departamento de Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) e Saúde Mental da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Anselm Hennis, a depressão também está associada a um aumento de 60% do risco de desenvolver diabetes tipo 2.
É possível tratar a depressão sem remédios?
Para o psiquiatra António, “as pessoas precisam entender que a depressão é uma doença, que necessita do acompanhamento adequado e, na maioria das vezes, com uso de medicamentos”.
“Nos casos mais leves, a psicoterapia é suficiente para devolver ao indivíduo a qualidade de vida, ao mudar padrões de comportamento. Mas para casos moderados a graves, o uso do medicamento é imprescindível”, diz o médico.
De acordo com António, estudos apontam que a combinação entre medicamentos e a psicoterapia é a forma mais efetiva de se tratar a depressão.
Se desconfiares estar com depressão, não penses duas vezes e procura um psiquiatra. Ele vai avaliar o teu caso e orientar quanto ao tempo adequado de tratamento e os possíveis efeitos colaterais da medicação.
Prevenir a depressão é possível com gerenciamento da vida
Na opinião dos dois profissionais entrevistados nesta reportagem, a maneira mais eficaz de combater a depressão é tomar medidas protetivas.
“É essencial não deixar que uma dor se torne crónica. O segredo para evitar que uma depressão aconteça é exercer o auto-conhecimento”, aponta Pamela.
É preciso fazer um bom gerenciamento da vida como um todo, procurando sempre manter equilíbrio entre vida profissional e pessoal. “É preciso cuidar do emocional com atenção. Investir em atividade física, que descarrega o corpo e a mente. Além disso, fazer passeios lúdicos com amigos e parceiro(a). Trocar carinho, fazer amor”, diz Pamela.
Também vais gostar destes:
– Depressão não é pieguice. Depressão é desconexão da alma!
– Depressão ansiosa: transtorno une tristeza e preocupação e causa mais 22 sintomas.
Atividades simples ajudam na manutenção do bem-estar:
- Faz um passeio no parque, pisa na relva
- Procura uma atividade física que gostes.
- Sai para jantar com pessoas queridas.
- Reserva alguns minutos na semana para falar telefone com amigos ou familiares.
- Planeia uma viagem ou um passeio na natureza.
“A vida contemporânea contribui demais para o crescimento da depressão. Trabalhar demais e viver poucos bons momentos. Nem todos têm a sorte e a oportunidade de ter um trabalho maravilhoso, estar feliz, ganhar o que acha que merece e ainda ter tempo livre” diz Pamela.