Comeste, amor?, ou, quem ama cuida…
Nós estamos acostumados a sentimentos e ações verbalizadas. “Eu amo-te”, “eu vou ficar para sempre contigo”, “eu nunca vou te trair”. Agimos como se palavras valessem como uma garantia, como um contrato assinado. Ele nunca vai te trair porque disse isso. Ela ama-te porque disse isso. Fazemos isso porque nos traz alento, nos tranquiliza. Sabemos que a pessoa pode quebrar a promessa em qualquer momento, ou simplesmente prometer sem pretender cumprir, mas, de qualquer maneira, as palavras nos tranquilizam.
E isso se dá, em parte, porque não somos capazes de ler e entender as atitudes das pessoas, em geral. É difícil e muitas pessoas têm dificuldades em se expressar de maneira não-verbal. Mas pequenos gestos dizem muito mais do que um “eu te amo” ou um “estou com saudade”. Quando vocês se falam no meio do dia e ela pergunta, despretensiosamente, “já comeste, amor?”, vale mais do que qualquer eu te amo. Eu amo-te é fácil de falar, a gente fala para o cão, para o amigo, para o carteiro que traz a nossa encomenda. Mas te preocupares a ponto de perguntar se tu, um adulto, já comeste, demonstras uma preocupação que vai além do eu amo-te.
Comove-me e deixa-me mais feliz um “comeste direito, amor?”, ou um “cuidado na rua porque vai chover” autêntico do que um “eu amo-te” automático como quem dá bom dia. Ninguém pergunta se você comeu direito ou se levaste casaco porque vai arrefecer de maneira automática, ou para agradar.
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Ninguém pede para te avisar quando chegar em casa porque é perigoso ou liga-te no meio do trabalho para saber se tá tudo bem “só para agradar”. São gestos reais, verdadeiros, que fogem do automático do dia a dia. Acreditem, essas coisas fazem-nos sentir muito mais amados, queridos e cuidados do que qualquer eu amo-te. Ouvir eu amo-te é ótimo, mas um “comeste, amor”, quando estás a precisar de cuidado e atenção não tem preço.