Sou vítima de violência doméstica.

Tirar conclusões precipitadas é tão simples de fazer, especialmente no que diz respeito a assuntos desconfortáveis como é o da violência doméstica.
Ainda agora começaste a ler este texto e já tens pena de mim. Podes admiti-lo, não é nada que me choque. O assunto não é nem nunca foi fácil.
Contudo, é importante que saibas que me considero imensamente sortuda pelas voltas que a minha vida tem dado. Se não tivesse sofrido, hoje não era forte, não era independente, não era cheia de esperança por dias melhores… Enfim, não era eu. Porque, se sobrevivi e sobrevivo diariamente a esta maré de azar que tem sido o meu percurso neste planeta, com certeza conseguirei ultrapassar tudo o que me desafie no futuro. E, mais importante ainda, ao contrário da maioria das raparigas da minha idade, sei exactamente o que não quero ser enquanto pessoa, mulher e mãe. Basta olhar à minha volta.
Mas, começando pelo início, deixa-me contar-te um pouco da minha história. Tenho 19 anos, 4 meses e 18 dias de vida, e tive duas casas, mas nunca um lar, onde sempre vivi com os meus pais e os meus dois irmãos, um ligeiramente mais velho e um significativamente mais novo. Palavras-chave do meu crescimento? Violência constante, falta de amor, pai alcoólico, mãe indiferente… O costume para jovens como eu. Nada disto condiz, ou pelo menos não deveria condizer, com a palavra “família”, eu sei. Para o meu pai, situações como fumar o seu cigarro e beber o seu copo (ou, antes, os seus muitos copos) até adormecer, trancar a minha mãe no quarto e espancá-la até se fartar, e ameaçar o meu irmão mais velho com uma forquilha são recorrentes e até normais. E a minha mãe… Bem, a minha mãe nunca fez nada, nunca disse nada, nem por ela nem por nós. De uma coisa não me posso queixar: sempre tive uma casa onde dormir, comida na mesa e roupa lavada. É certo que a casa está sempre suja e desarrumada, a comida nunca foi bem a que eu queria ou a mais saudável do mundo e a roupa também não era a melhor, mas, no fundo, não é o facto de ter menos do que os outros que me irrita e revolta tanto (embora sinta inveja das raparigas da minha idade que vejo na rua tão felizes e sem pesos nos ombros, não o vou negar), é o facto de eu saber que só não tenho melhor devido às prioridades trocadas do meu pai, que sempre colocou o vício acima de todos nós. No entanto, se me dessem a escolher entre mais dinheiro e mais amor, sem dúvida que preferia que houvesse mais amor por aqui, porque com amor podes conseguir dinheiro, mas com dinheiro dificilmente irás conseguir amor.

Os meus dias costumavam ser todos iguais uns aos outros até que os conheci a eles. Entraram no café onde trabalho, numa manhã qualquer e, sem saber bem porquê, ligaram-se a mim de tal forma que hoje são mais pais para mim do que os meus pais biológicos alguma vez foram. No meu coração, aliás, são eles os meus verdadeiros pais, porque ser mãe não é só dar à luz e ser pai não é só deitar-se numa cama para dormir com uma mulher. O amor não é definido pelo sangue, é definido pelo empenho, pela preocupação, pela presença, e deles só tive isso, mesmo quando cometi os meus erros de pessoa humana e imperfeita. Apoiaram-me quando perdi a minha maior esperança de ser amada, o Diogo, que decidiu ser só um capítulo no livro que é a minha vida quando eu queria que ele fosse o livro inteiro, e mostraram-me que o meu valor não é definido pelos outros, mas apenas e só por mim mesma.

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É incrível a falta que uma mãe e um pai de verdade fazem, e a diferença que senti quando finalmente tive uns foi gigante. Por isso, sugiro que dês valor aos teus e aos pequenos momentos que passas com eles, pois há muitas raparigas como tu que não sabem sequer o que é ter uma mãe que lhes arranje o cabelo, que lhes ensine a usar maquilhagem e que lhes explique o que acontece na primeira vez de uma mulher, e um pai que as proteja contra o mundo e as faça sentir como autênticas princesas que viverão felizes para sempre. Quem me dera a mim ter tido esses luxos desde que nasci.

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