“Sentia que era preciso fazer alguma coisa. Passou a ser normal urinar na rua”, diz, ainda com estupefacção, Isabel Sá da Bandeira, da associação de moradores Aqui mora gente. Foi Isabel que idealizou o projecto Xixi na rua, não!. Numa pesquisa pela internet descobriu que em Hamburgo, na Alemanha, era aplicada uma tinta na parede que repelia a urina. “Achei que era algo pedagógico para quem faz essa prática”. Também pesquisou preços e viu que a tinta era uma “fortuna”. Então, decidiu levar esta ideia ao Orçamento Participativo da Junta de Freguesia da Misericórdia, sugerindo a sua aplicação no Largo de Camões, a rua das Flores, o beco dos Apóstolos, o largo dos Stephens, a travessa do Alecrim, o Largo de São Paulo, a rua dos Remolares e a rua da Ribeira Nova. A proposta venceu por um voto e já começou a ser posta em prática.
A aplicação começou no passado dia 5 de Agosto, na Unidade de Saúde Familiar, na rua da Ribeira Nova. Renato Igreja, funcionário da Junta de Freguesia da Misericórdia, foi quem aplicou o produto. A sua primeira reacção quando chegou ao local foi ilustrativa: “Cheira tão mal!”. “Aquela parede é conhecida como o muro das lamentações”, acrescenta Isabel, referindo que todas as noites há de 20 a 30 pessoas a fazerem chichi naquele local. “No prédio em frente vivem pessoas, que assistem a isto todos os dias”, acrescenta.
Com uma mochila e uma mangueira de borracha, a tinta é projectada para a parede por Renato Igreja. O funcionário começa por colocar um composto que prepara a superfície para um segundo líquido – uma tinta hidrofóbica. No final, faz-se o teste com uma garrafa de água. Se estiver bem aplicado, a parede transforma-se numa estrutura impermeável que em contacto com os líquidos, não os absorve, antes os repele devolvendo-os para cima dos pés e pernas dos autores do feito. Cada aplicação dura, em média, três anos.
“Esta é uma zona muito fustigada por todos os problemas que existem na noite, pois as pessoas vêm beber e depois urinam nas paredes”, explica Carla Madeira sobre a escolha do projecto. A presidente de junta sublinha que são os moradores que sofrem mais com os excessos cometidos durante a madrugada quando saem para trabalhar no dia seguinte. “Até pode haver implicações a nível da saúde pública.”
Mas não foi fácil encontrar uma empresa que fornecesse o produto. A primeira contactada estava nos EUA e pedia 400 euros por dois litros de tinta. Mais tarde, a junta de freguesia encontrou uma empresa em Samora Correia que conseguiu desenvolver um produto semelhante, 20,7 euros cada litro. Só na compra do produto gastaram 7000 euros dos 10.000 euros disponíveis no orçamento. “É uma novidade para todos na freguesia e em Portugal. Temos uma grande expectativa neste projecto.”
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“As pessoas têm reagido muito bem”, destaca Carla Madeira. Aliás, quando viram a presidente da junta de freguesia colocar as placas sinalizadoras, aproximaram-se e começar a desfiar o seu penoso conhecimento sobre os cantos do bairro onde o cheiro é mais intenso.
A conversa não é nova e, até ao momento, a estratégia da junta tinha sido apelar ao civismo dos frequentadores da freguesia da Misericórdia. Agora, quem urinar a meio metro das paredes das áreas sinalizadas não vai ter uma experiência agradável.
Texto editado por Ana Fernandes